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Ana Prestes Br


 14/09/2021
 
- O Partido Trabalhista da Noruega conquistou o maior número de representantes nas eleições da Noruega que se deram ontem (13). Foram eleitos/as os/as 169 representantes do Storting, parlamento do país, na capital Oslo. Uma coalizão liderada pelos trabalhistas tem todas as condições de formar uma larga maioria. Dois partidos aliados do Partido Conservador não cumpriram os 4% de votos da cláusula de barreira e assim impedem que a aliança centro-direita se mantenha com a maioria. Os conservadores dirigem o país desde 2013, com dois mandatos da conservadora Erna Solberg. O grande tema das eleições foi a questão do que fazer com o petróleo. O país é o maior produtor europeu. O Partido Verde, potencial aliado dos trabalhistas, propõe o cessar da exploração do petróleo. Os trabalhistas querem uma meta para iniciar a redução da indústria petrolífera a partir de 2035. Os primeiros partidos com quem Jonas Gahr Stoere, líder dos trabalhistas, vai conversar são o Partido do Centro e a Esquerda Socialista. Junto a outros partidos, a aliança de centro-esquerda pode chegar a 100 assentos, hoje possuem 81. A indústria do petróleo representa 14% do PIB norueguês, ocupa 40% de todas as exportações nacionais e emprega 160 mil pessoas (fonte: RFI). A Noruega é hoje um dos países mais ricos do mundo, graças ao petróleo e o gás do Mar do Norte. Estão pressionados pelos compromissos multilaterais de combate às alterações climáticas. 
 
- A Argentina realizou no final de semana seu PASO – Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias – que preparam as eleições de 14 de novembro deste ano. Além do ou da presidente, neste dia se elegerão 24 novos senadores/as (são 72 no total) e 127 deputados/as (são 257 no total). O governo Fernandez e sua coalizão Frente de Todos não saíram bem no PASO. Perderam em 17 dos 24 distritos do país. Houve também muita abstenção que junto com os votos em branco e nulos somam 38,45% dos habilitados para votar. A oposição centrou sua campanha nos distritos com maior peso e na província de Buenos Aires. A ex-governadora de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, derrotada nas eleições de 2019, alcançou os votos para concorrer pela capital em novembro. A votação foi bem apertada na província de Buenos Aires com 38% para o Juntos e 33,6% para a Frente. O Juntos por el Cambio, oposicionista, também ficou bem em Córdoba, Jujuy, Santa Cruz, Chaco e outros. Outra chapa oposicionista, La Libertad Avanza, também conseguiu projeção. Na cidade de Buenos Aires surpreendeu a votação do ultradireitista Javier Milei com 13% dos votos. 
 
- Faleceu no sábado (11), no Peru, o líder histórico do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, aos 86 anos. Morreu no cárcere onde cumpria prisão perpétua. Guzmán era professor de filosofia quando iniciou atividades de insurgência contra o governo peruano na década de 80. Defendia uma revolução camponesa via luta armada. O Sendero Luminoso já existia desde os anos 60 quando Guzmán se integrou ao grupo. Como já era de se esperar, a morte de Guzmán impactou no governo recém empossado de Pedro Castillo. Qualquer gesto do novo presidente é utilizado pela oposição fujimorista para tentar implicá-lo como associado ao Sendero Luminoso. Frente a isso, o governo Castillo está advertindo que qualquer iniciativa de homenagens póstumas a Guzmán será considerada como apologia ao terrorismo com previsão de pena de até 4 anos de prisão. Por isso, os restos mortais do guerrilheiro estão em pauta para que se decida sobre o seu destino, quando, pela lei, essa decisão deveria caber somente à família. A esposa de Guzmán, Elena Iparraguirre, também era integrante do SL e está encarcerada. Ainda assim, cabe a ela a decisão sobre o destino do marido. Ambos foram presos em 1992. 
 
- O Irã vai permitir que a agência nuclear da ONU faça manutenção nas câmeras de monitoramento das instalações nucleares iranianas. A informação é do chefe da AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica – Rafael Grossi. Esta aproximação faz parte das conversas que buscam o reavivamento do acordo nuclear com o Irã de 2015, abandonado pelos EUA durante a gestão Trump. A imprensa americana criticou duramente o acordo e diz que Biden está “vendido” para uma reativação do acordo nuclear com o Irã. Enquanto isso, circulam informações de um think tank americano, o Instituto para Ciência e Segurança Internacional, com a mesma sigla do grupo terrorista ISIS, de que em aproximadamente um mês o Irã terá urânio enriquecido em quantidade suficiente para a produção de armas nucleares e o governo Biden está internamente pressionado para reagir. O novo presidente iraniano Ebrahim Raisi está conduzindo a política nuclear do país a um ponto em que os EUA precisarão baixar a guarda para negociar. O embaixador da Rússia na IAEA, Mikhail Ulyanov, se pronunciou ao dizer que o acordo alcançado com relação às câmeras de monitoramento é técnico mas muito importante, pois constrange as especulações sobre as atividades nucleares do país.
 
- Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Síria, Bashar al-Assad, se reuniram ontem (13) em Moscou. Um dos pontos do debate foi sobre o terrorismo e segundo Putin, “ainda existem bolsões de resistência por parte de terroristas que controlam certos territórios”. No entanto, nas palavras de Assad em declaração conjunta com Putin, “nossos exércitos, posso constatar, deram uma enorme contribuição para proteção de toda a humanidade desse mal (terrorismo)”. Os dois governantes ainda sublinharam que as relações comerciais e econômicas entre os dois países cresceram 250% apenas na primeira metade de 2021. (fonte: Sputknik).
 
- Outro encontro desta semana foi entre o presidente egípcio Abdel Fattah Sisi e o premiê israelense Naftali Bennet. Primeiro encontro deste nível entre os dois países em 10 anos. Após o encontro, Bennet disse que o Egito possui um papel significativo para a “manutenção da estabilidade de segurança na Faixa de Gaza” (qual estabilidade??? questionamento inevitável desta autora das Notas). Em maio, o Egito mediou um cessar-fogo entre Israel e o Hamas que governa Gaza. 
 
- Ecoa internacionalmente e em especial na América Latina que enquanto o Brasil chega a 21 milhões de infectados pelo coronavírus, o presidente Bolsonaro admite não ter tomado nenhuma vacina contra o vírus. Ele ainda admitiu que já pode ter sido infectado pela segunda vez, de acordo com exames IGG. As declarações de Bolsonaro chocam o mundo poucos dias antes do presidente brasileiro abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. 
 
- O Brasil também foi citado na recente reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Durante a abertura do encontro, a presidente do Conselho, Michelle Bachelet, disse estar alarmada com “os recentes ataques contra membros dos povos Yanomami e Munduruku por garimpeiros ilegais na Amazônia”, além das “tentativas de legalizar a entrada de empresas em territórios indígenas e limitar a demarcação de terras indígenas”. O Brasil tem sido denunciado ao TPI – Tribunal Penal Internacional – por genocídio e crimes contra a humanidade por conta da situação dos povos indígenas. Bachelet também informou que seu escritório na ONU está preocupado com “a nova proposta de legislação antiterrorista no Brasil que inclui disposições excessivamente vagas e amplas que apresentam riscos de abusos, particularmente contra ativistas sociais e defensores dos direitos humanos”. 
 
- Em El Salvador estão marcadas mobilizações para amanhã, 15 de setembro. Mais de 32 entidades da sociedade civil estão unificadas para protestar pela restituição do Estado de Direito no país e para defender a democracia. Pelo menos três medidas do governo de Bukele têm provocado fortes reações na população: a entrada em vigor da lei do Bitcoin, o aval à reeleição imediata e a reforma da lei da carreira jurídica. Um dos pontos de encontro para a saída da marcha será a Universidade de El Salvador, com concentração de estudantes, ambientalistas e indígenas, em outros pontos estarão as feminista, sindicalistas e outros setores que somam mais de 30.




Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 20/07/2021
 
- Finalmente Pedro Castillo será proclamado o vencedor do segundo turno das eleições presidenciais do Peru no último 6 de junho. O Jurado Nacional Eleitoral (JNE) ontem (19) deu como improcedentes os últimos cinco recursos apresentados pela candidatura de Keiko Fujimori contra a legitimidade do pleito. Em seu primeiro pronunciamento, Castillo disse: “invoco à líder do Força Popular, a senhora Fujimori, que não coloquemos mais barreiras na travessia e não coloquemos mais obstáculos para seguir adiante com este país”. Castillo também falou que na presidência lutará contra a corrupção: “não vamos permitir que roubem um centavo do povo peruano e ratificamos nosso compromisso para fazer uma luta contra a corrupção, contra os grandes males”. “Vou reconhecer os resultados”, disse Keiko em seu pronunciamento, apesar de insistir que as eleições foram ilegítimas. Pedro Castillo e sua vice, Dina Boluarte, tomarão posse no próximo dia 28 de julho, junto aos parlamentares eleitos para a Assembleia Nacional, no mesmo dia em que o Peru comemora seus 200 anos de independência. 
 
- O Haiti passa a ter um novo governo hoje, encabeçado por Ariel Henry, que havia sido indicado por Jovenel Moise dois dias antes do magnicídio do presidente. O atual primeiro-ministro, Claude Joseph, voltará ao cargo de ministro das Relações Exteriores. O país ficará sem presidente e a missão será convocar novas eleições. Atualmente previstas para 26 de setembro. Após a morte de Moise, Joseph chegou a se autoproclamar a maior autoridade do país e foi reconhecido como tal pela comunidade internacional. No últimos dias, no entanto, sua autoridade foi corroída pelas revelações das investigações que podem implica-lo no assassinato de Moise. O país está sem parlamento operante. O novo primeiro-ministro também assumirá a pasta de Assuntos Sociais e Trabalho, que havia ocupado por dois anos durante o governo de Michel Martelly, anterior ao governo Moise. A morte de Moise continua sob investigação. Ontem foram divulgados áudios de chamadas telefônicas em que ele pede ajuda aos oficiais da Polícia Nacional Haitiana. Um dos interrogantes do caso é porque a segurança do presidente e a polícia haitiana não o socorreu.
 
- O governo boliviano continua trazendo revelações das investigações sobre o golpe de 2019. Já há evidências de que representantes do governo Trump tratavam do assunto em julho de 2019, meses antes do golpe. Em reunião do dia 24 de julho de 2019, o secretário adjunto do Departamento de Estado dos EUA para o hemisfério ocidental, Kevin O’Reilly, se reuniu na Bolívia com pessoas das embaixadas do Peru, Argentina, Brasil, além de representantes da OEA e da União Europeia, para tratar da “possibilidade” de fraude nas eleições bolivianas que ainda ocorreriam em outubro daquele ano. As eleições ocorreram em 20 de outubro e nesse mesmo dia o adversário Carlos Mesa se declarou o vencedor, apesar da evidente vantagem de votos a favor de Evo. No dia 21 de outubro começaram as denúncias de fraude e no dia 24, quando 99,9% dos votos já haviam sido apurados, se sabia que Evo tinha 10% de votos a mais do que Mesa. Passados dois dias, o Palácio do Governo em La Paz foi cercado e daí até o dia 9 de novembro, quando paramilitares começaram a queimar as casas de dirigentes do MAS, muitos distúrbios foram provocados. No dia 10 de novembro Evo foi obrigado a renunciar e no dia 11 começaram os atos de violência no sul do país. Nesses mesmos dias, o embaixador da Argentina na Bolívia, Normando Álvarez, pediu à chancelaria boliviana autorização para entrar com pessoal, material e equipamentos das forças especiais de segurança argentina. Em 12 de novembro, Jeanine Añez se autoproclama presidente e começam a chegar “os materiais” da Argentina e do Equador. Entre os dias 16 e 19 de novembro ocorreram os massacres de Sacaba e Senkata. Há indícios de que a diplomacia brasileira e chilena tinham conhecimento do golpe, assim como a espanhola.
 
- Na África do Sul, foi retomado ontem (19) o julgamento do ex-presidente Jacob Zuma. Desde sua prisão, em 7 de julho, o país vive em um estado de tensão devido às manifestações que tomaram conta do país, em especial na região de Durban e de Johanesburgo. Zuma renunciou à presidência do país em 2018, após as denúncias de corrupção durante seu governo no país. Sua defesa tenta neste momento derrubar o chefe do Ministério Público por parcialidade. O caso Zuma gerou divisões internas no bloco governante do país. O atual presidente, do mesmo partido, ANC (Congresso Nacional Africano), Cyril Ramaphosa, acusa Zuma de incitar a população contra o governo.
 
- Nos últimos dias há muitas notícias na imprensa internacional sobre o software israelense Pegasus, que estaria espionando pessoas estratégicas mundo afora e que um dos filhos do presidente Bolsonaro estaria tentando trazer para o Brasil. Já há notícias de que a tal viagem de Ernesto Araújo e outros membros do governo brasileiro para saber do “spray nasal” anti-Covid pode ter tido reuniões com o governo israelense sobre o sistema espião. O software espião é vendido para governos que estariam espionando jornalistas principalmente. Calcula-se que 50 mil jornalistas, advogados, ativistas já tenham sido grampeados pelo Pegasus. 
 
- E na mesma semana em que o caso Pegasus está na mídia, os Estados Unidos e aliados europeus e asiáticos estão acusando o Ministério de Segurança do Estado da China de fazer uso de “hackers criminosos contratados” para ações cibernéticas desestabilizadoras pelo mundo. Segundo a vice-procuradora-geral, Lisa Monaco, em reportagem da CNN, “a China continua a usar ataques cibernéticos para roubar o que outros países fazem”. A ação é parte da política norte-americana de descredenciar a China no mercado internacional de tecnologias da informação, em especial com relação a Huawei, como já comentei aqui nas Notas tantas vezes. Será que os americanos vão se levantar do mesmo modo com relação a Israel e seu Pegasus?
 
- Os jogos olímpicos e paralímpicos do Japão estão previstos para começar esta semana, no entanto, não param de emergir casos de infeções pelo coronavírus entre os membros das delegações nacionais que chegam ao país. Está na imprensa de hoje que Toshiro Muto, chefe do comitê organizador dos Jogos, que seriam organizados em 2020, não descarta até um cancelamento de última hora. A ver.
 
- O presidente sírio, Bashar al-Assad, tomou posse pela quarta vez, desde 2000, no último final de semana. O país vive ainda um estado terminal de uma guerra que foi iniciada em 2011. Calcula-se que mais de 500 mil pessoas morreram nos conflitos e milhões hoje estão fora do país após um grande êxodo. Dos que ficaram no país, muitos estão na extrema pobreza e vivem em cidades colapsadas em sua infraestrutura. Com o apoio dos governos da Rússia e do Irã, Assad conseguiu retomar o controle do país a partir de 2015. 
 
- Já começa a ter efeito internacional o dado do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) de que mais de 8300 km2 da Amazônia legal foi desmatada entre agosto de 2020 e junho de 2021. É o número mais alto registrado em dez anos. 
 
- O governo alemão estima perdas em torno de 2 bilhões de euros após inundações que arrasaram o oeste do país. Mais de 160 pessoas morreram. Segundo a agência de notícias alemã DW, ruas, trilhos, pontes e torres de telefonia estão destruídos na região. A Bélgica também foi bem afetada com mais de 30 mortes. Segundo Johannes Quaas, da Universidade de Leipzig, na reportagem, “esse é o novo normal.... estamos lentamente nos aproximando de um novo normal que inclui padrões diferentes de precipitações”, se referindo às chuvas torrenciais e atípicas para a época do ano.
 
- Será lançado hoje o foguete Blue Origin de Jeff Bezos. O próprio estará embarcado, além de outros três passageiros. Serão 11 minutos a 100 km de altitude. Todo o comando da nave será por inteligência artificial.

Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 19/07/2021







 
- O Chile passou ontem (18) por primárias presidenciais. Como funcionam? Não é um processo obrigatório, os partidos optam por realizar primárias internas ou em coalizões. Para tanto inscrevem suas candidaturas no Serviço Eleitoral (Servel) do país que faz todo o trâmite burocrático. A eleição ocorre em caráter nacional e no 20º domingo anterior à data da eleição para Presidente. Cada partido ou aliança de partidos informa ao Servel quem poderá votar nas suas primárias e há cinco opções: só os filiados ao partido (no caso de primária interna a um único partido); filiados e eleitores em geral que não tenham filiação partidária (primária partidária interna); apenas filiados aos partidos que integram a coalizão; filiados aos partidos da coalizão e eleitores sem filiação partidária; todos os eleitores aptos a votar. No caso das primárias de 2021, duas coalizões colocaram seus pré-candidatos para passarem por um escrutínio eleitoral com ampla votação da cidadania, a coalizão de direita Chile Vamos e a coalizão de esquerda Apruebo Dignidad. Nos meses que antecederam as primárias, as pesquisas de intenções de votos davam a dianteira para o comunista Daniel Jadue, filiado ao Partido Comunista do Chile, seguido por Joaquín Lavín, da UDI – Unión Democrata Independiente, partido conservador de direita do oficialismo. As pesquisas voltadas para as primárias especificamente também apontavam os dois como favoritos em suas respectivas coalizões. Porém a votação levou a outro resultado. Pelo Chile Vamos, foi eleito Sebastian Sichel e pelo Apruebo Dignidad foi eleito Gabriel Boric. O bloco Apruebo Dignidad angariou mais de 1,7 milhão de votos, sendo 60% para Boric e 40% para Jadue. Já o Chile Vamos conquistou 1,3 milhão de votos, sendo 49% para Sichel, 31% para Lavín e quase 10% para Mario Desbordes do Renovación Nacional e mais 9% para Ignacio Briones do Evópoli. Em seu discurso de vitória, Boric disse que se o Chile foi o berço do neoliberalismo, será também sua tumba. Disse também que trabalhará incansavelmente com Jadue pela vitória do Apruebo Dignidad nas eleições de novembro. Boric é proveniente da militância autonomista no movimento estudantil, da região de Magalhães e está em seu segundo mandato como deputado nacional. Está filiado ao partido Convergência Social fundado em 2018 pelos autonomistas. Em sua campanha nas primárias destacou muito a perspectiva de gênero e as preocupações com o meio ambiente. Fala muito em uma paz social construída com justiça social. Defendeu a ampliação dos direitos coletivos dos trabalhadores. Apesar de ser um candidato da esquerda, Boric atraiu um voto anti-comunista e anti-Jadue. As regiões mais ricas do país em Santiago oriental votaram massivamente por Boric. Ele acabou se tornando uma “saída do meio” para chilenas e chilenos que querem mudanças, mas temem um comunista no poder. Já o candidato da direita será Sebastián Sichel, que já foi do partido Democrata Cristão, do Ciudadanos e agora se identifica como Independente. É advogado de formação e trabalhou nos governos de Bachellet e Piñera, nos ministérios da economia, turismo e desenvolvimento social. Nunca ganhou uma eleição para nenhum cargo e se autodeclara porta-voz da centro-direita.
 
- Uma reportagem da TV colombiana Caracol do último dia 15 aponta o atual primeiro-ministro e presidente do Haiti, Claude Joseph, como um dos possíveis mandantes do assassinato do presidente Jovenel Moise no último dia 7 de julho. Dois dias antes de falecer, Moise havia nomeado Ariel Henry para substituir Joseph como primeiro-ministro e montar um novo gabinete. O objetivo do crime seria sequestrar Moise para Joseph assumir a presidência. Para tanto, desde novembro de 2020, teriam planejado o crime e contratado colombianos que trabalham como agentes privados de segurança. Pela reportagem, 200 agentes foram contratados, mas não todos teriam sido mobilizados para a missão. A matéria é controversa ao falar em sequestro, mas diz que 7 dos contratados sabiam que Moise deveria ser assassinado. Os colombianos presos e interrogados pelo FBI relataram proteção da polícia haitiana durante os meses em que viveram no Haiti ante do crime, também segundo matéria da TV Caracol ver: shorturl.at/jmyN4

- Após suas investidas no final de semana de 11 de julho para transformar problemas internos de Cuba, como a justa insatisfação popular com a escassez energética, provocada em grande medida pelas condicionantes do bloqueio econômico, em um golpe contra o governo de Díaz-Canel, o governo dos EUA tenta novas medidas desestabilizadoras. Biden voltou a falar na Casa Branca em envio de vacinas contra Covid para Cuba, desde que administradas por agências internacionais, que não permitiriam “confisco da vacina por autoridades cubanas”, assim como falou em “restaurar o acesso à internet” que supostamente teria sido cortado pelo governo cubano. Os pronunciamentos tentam desviar a atenção do fato de que Cuba possui suas próprias vacinas, mas justamente o governo dos EUA inviabiliza acesso a seringas e outros insumos básicos para o desenvolvimento da vacinação. Assim como a rede de internet é afetada justamente por conta das limitações e restrições comerciais impostas pelo embargo econômico. Biden ainda não falou em revogar nenhuma das mais de 250 medidas restritivas à Cuba da Era Trump.
 
- A África do Sul atravessou uma semana com muitos protestos e distúrbios de rua. Os protestos começaram no dia 8 de julho, logo após o ex-presidente Jacob Zuma se entregar à Justiça para começar a cumprir uma pena de 15 meses de prisão por desacato à corte do país. Ele enfrenta um inquérito por denúncias de corrupção no período de seu mandato presidencial (2009 – 2018). Muitos protestos deixaram inscritas as palavras “Free Zuma” nas paredes e muros das cidades, em especial em Durban, onde foram mais massivas. Protestos foram grandes também em Joanesburgo e Kwazulu-Natal, de maioria zulu. Há estimativas de mais de 200 pessoas mortas e mais de 2500 foram presas. Muitos centros comerciais foram invadidos, saqueados e depredados. A África do Sul é o país africano mais afetado pela pandemia e enfrenta uma crise econômica e social profunda, com desabastecimento de combustíveis e alimentos. A taxa de desemprego no país está em torno dos 30%. O presidente do país, Cyril Ramaphosa, admite que o país está em grave crise e que houve demora para dar resposta aos protestos mais violentos. Muitas mortes foram causadas por civis e seguranças privadas no confronto com os manifestantes. Parte do governo acusa os partidários e apoiadores de Zuma pela onda de violentos protestos.
 
- No próximo mês de agosto completa-se um ano da trágica explosão no porto de Beirute, no Líbano. Desde então, o país está sem um governo em pleno funcionamento, após a renúncia de Hassan Diab. O primeiro-ministro interino, Saad Hariri, acaba de desistir de mais uma tentativa de formar governo, após oito meses de negociações e recusa do presidente do país Michel Aoun da proposta apresentada. Importante lembrar que no Líbano o governo é  formado por cotas, presidente cristão maronita, primeiro-ministro muçulmano sunita e presidente do parlamento muçulmano xiita. Esse modelo vem desde os anos 1940, com a independência do país. Para elegerem seus representantes, os libaneses também votam em listas relacionadas à sua comunidade religiosa. O presidente Aoun alega que Hariri foi intransigente na última negociação que tiveram para a distribuição de ministérios. O Líbano sofre hoje de escassez de combustível, remédios, alimentos e produtos básicos, além de cortes de energia. Essa crise vem desde 2019 com aumento dos impostos em geral e perpetuação de esquemas de corrupção entre as oligarquias políticas religiosas.
 
- Segue em alta a queda de braço entre Viktor Orban, primeiro ministro húngaro, e a União Europeia em relação às políticas homofóbicas do governo da Hungria. Na última sexta (16), a Comissão Europeia anunciou a abertura de uma investigação por considerar que as políticas de Orban de proibir difusão de conteúdo LGBTI em ambientes onde há menores de idade viola a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia em pontos como os da liberdade de expressão e direito à não discriminação. Outro procedimento semelhante foi aberto com relação à Polônia, por criar “zonas livres de ideologia LGBTI” em vários municípios do país.
 
- A chinesa Xiaomi se tornou a segunda maior fabricante de smartphones do mundo, ultrapassando a Apple. A Samsung continua na liderança, com 19% do mercado. Xiaomi teve participação de 17% e a Apple de 14% no segundo trimestre de 2021 (Li no Meio).





*Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 11/08/20*
 
- A *vacina russa de imunização humana contra o novo coronavírus foi registrada*. Ela é produzida pelo Instituto Gamelaya em colaboração com o Ministério da Defesa da Rússia. O presidente Putin disse essa manhã (11) em coletiva de imprensa com outros ministros: “pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada”. O presidente ainda acrescentou que sua filha já havia tomado a vacina. O ministro da saúde russo, Mikhail Murashko disse que foi provado que a vacina “possui grande efetividade e segurança”. O plano é iniciar a vacinação em massa da população russa em outubro. A vacina russa não aparece na lista de vacinas relacionadas pela OMS que já teriam atingido a fase três de testes clínicos. Na imprensa internacional já surgem críticas de que os testes podem não ter sido suficientes ou ocorrido em um período de tempo curto demais (2 meses). No entanto, os russos não parecem se abalar com as críticas e estão focados em vacinar sua população. Aliás, a medicina russa é conhecida por sua autossuficiência e proteção de uma população que já enfrentou inúmeras ameaças de vida ao longo de sua história. 
 
- Ontem comentei aqui nas Notas sobre os fortes protestos da população libanesa em Beirute no final de semana e a renúncia de pelo menos três ministros e vários parlamentares. Hoje a notícia é de que o governo renunciou por inteiro. Na *noite da segunda-feira (10), o primeiro ministro Hassan Diab se dirigiu ao país e anunciou sua renúncia e de todo seu gabinete*. Em um discurso visivelmente emocionado, Diab disse que o Líbano vive em um “ambiente de corrupção maior que o Estado”. Do lado de fora de onde o premiê discursava, manifestantes e polícia se enfrentavam, com muita repressão contra os que realizavam os protestos. Hassan Diab estava no poder desde dezembro do ano passado, quando massivas manifestações derrubaram o governo anterior de Saad al-Hariri, filho de Rafic Hariri, morto em um atentado em 2005. Matéria da Reuters diz que o governo foi alertado em julho de que as 2750 toneladas de nitrato de amônio guardadas no porto de Beirute poderiam destruir a capital caso fossem explodidas. Uma carta teria sido enviada ao presidente Michel Aoun e ao premiê Hassan Diab no dia 20 de julho. A carta seria de um comitê de investigação formado pelo próprio governo em janeiro passado. 
 
- Uma *tragédia ambiental está ocorrendo nas Ilhas Maurício*. Um navio da empresa japonesa Mitsui OSK Lines encalhou na costa sudeste do país no último dia 25 de julho e está provocando um vazamento de óleo. O vazamento começou no dia 4 de agosto, semana passada e já derramou cerca de 1000 toneladas de óleo. Outras 500 toneladas foram retiradas do navio, mas ainda há 2500 toneladas dentro da embarcação. O vazamento atingiu as principais praias do país que é banhado pelo Oceano Índico e reconhecido como um verdadeiro paraíso em termos de diversidade biológica, ecologia marinha e preservação ambiental. Suas águas transparentes atraem visitantes de todo o mundo. Ambientalistas já falam que pode levar cerca de dez anos para que o ecossistema marinho no local volte a ser próximo do que era até semana passada.
 
- Segue o *debate sobre a sucessão da direção do BID* – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Argentina, México, Chile e Costa Rica pedem adiamento das eleições para março de 2021. Hoje as eleições estão previstas para 12 e 13 de setembro. O adiamento também é defendido publicamente pela União Europeia, como já relatei aqui nas Notas. Pelo menos 16 países europeus são sócios contribuintes do BID. Europeus, argentinos, mexicanos e chilenos juntos completam 32% dos votos. São necessários 25% de abstenção para adiamento da escolha. Lembro aqui que pela primeira vez em 60 anos de banco, os EUA indicaram um norte-americano de origem cubana, Clever-Carone, membro do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, para ocupar a presidência. A princípio o Brasil tinha candidato, o banqueiro Rodrigo Xavier, mas tão logo os EUA anunciaram a sua candidatura, o Brasil abandonou o projeto e se juntou aos norte-americanos. (com infos de O Globo).
 
- O candidato democrata à presidência dos EUA, *Joe Biden, deve anunciar ainda esta semana quem será sua companheira de chapa e candidata à vice-presidente do país*. Algumas das candidatas mais promissoras, segundo o NYT, são: a senadora pela Califórnia, Kamala Harris; a ex-conselheira de segurança nacional, Susan Rice; a senadora por Massachusetts, Elizabeth Warren e a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer. Biden te liderado as pesquisas para a corrida presidencial nos EUA nas últimas semanas, mantendo uma margem média de 10% à frente de Trump. Um dado tem incomodado Trump, o fato de que os EUA podem chegar em novembro, mês das eleições, com 230 mil mortos pelo coronavírus. Pela característica das eleições norte-americanas, no entanto, não basta ser popular antes das eleições, mas ser popular nos Estados certos, Hillary que o diga. São em geral os Estados mais populares e conhecidos como os battleground states, como o Colorado, a Flórida, Iowa, Michigan, Minnesota, Nevada, New Hampshire, North Carolina, Ohio, Pennsylvania, Virginia e Wisconsin.   
 
- Por falar em Trump e nos EUA, o *presidente americano anunciou ontem (10), em coletiva na Casa Branca, que poderá tomar medidas tarifárias em relação ao Brasil* para proteger o etanol norte-americano. Questionado por um jornalista sobre a pressão que estaria fazendo para que o Brasil elimine as tarifas sobre a importação do etanol americano, Trump disse que “em algum momento o tema terá que ser discutido”, pois “não queremos pessoas nos tarifando”. O Brasil importa até 750 milhões de litros de etanol dos EUA sem tarifa, tudo que é comprado acima dessa quantidade recebe um imposto de 20%. Os americanos querem tarifa zero.
 
- O ex-presidente *Temer recebeu autorização da justiça brasileira para ir ao Líbano* liderando uma missão brasileira de ajuda humanitária pós-explosões no porto de Beirute. Ele é réu em duas condenações penais. A proximidade entre Bolsonaro e Temer é vista no mundo político como uma tentativa de manter o MDB por perto, cortejando um de seus maiores caciques, o golpista Michel Temer.
 
- Ontem falei aqui nas Notas das eleições do final de semana em Belarus que reelegeram o atual presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos. A *candidata opositora, Svetlana Tikhanovskaya, cuja campanha arregimentou multidões, se refugiou ontem na Lituânia*, país vizinho. Segundo ela, o fez pela proteção dos filhos. Ela havia permanecido boa parte da segunda-feira presa na Comissão Eleitoral, após se apresentar para denunciar supostas fraudes nas eleições. Lukashenko acusa os opositores de “ovelhas teleguiadas” por Londres, Varsóvia e Praga. A Polônia pediu uma reunião da União Europeia sobre as eleições. Presidentes Putin e Xi Jinping já reconheceram a eleição de Lukashenko e o parabenizaram.
 
- No *Afeganistão, onde ocorre o mais longo conflito militar com envolvimento dos EUA, ao todo 18 anos, houve acordo no domingo (9) pela libertação de 400 prisioneiros membros do Taleban*. Lembremos que em fevereiro deste ano de 2020 os EUA e o grupo Taleban assinaram em Doha, no Catar, um acordo de pacificação do país. No acordo os EUA se comprometem a retirar suas tropas do país em até 14 meses. Ocorre que o acordo não foi para frente pois nem o governo do Afeganistão e nem os Talebans soltaram os presos de parte a parte. O presidente afegão, Ashraf Ghani, mesmo em meio a uma pandemia, convocou 3200 líderes comunitários e políticos do país a irem a Cabul na semana passada para se aconselhar sobre o aceite ou não da libertação dos prisioneiros. A promessa é de libertar até 5000 talebans. Como contrapartida pede-se um cessar fogo.
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Notas internacionais (por Ana Prestes) – 02/07/20

- Na América do Norte, o NAFTA, acordado em 1994, foi enterrado de vez e entrou em vigor ontem (1) o UMSCA ou T-MEC. Um tratado econômico de livre comércio entre México, EUA e Canadá. A realização de um novo tratado no subcontinente foi uma das promessas de campanha de Trump. Antes da pandemia, o fluxo comercial entre os três países representava quase 30% do PIB mundial, segundo veiculado na imprensa internacional, e teria alcançado 1,2 trilhão em 2019. Muitas das medidas de livre comércio que já constavam no Nafta continuam no T-MEC, mas houve mudanças importantes nas regras para a indústria automotiva, principalmente na garantia da proveniência de peças e insumos dos EUA. Mudanças também no sistema de negociação de controvérsias e modernização do sistema de certificação e despacho de mercadorias. Com o acordo, os EUA protegem seus trabalhadores e também sua indústria de aço e alumínio. No México, a Secretaria de Economia se pronunciou dizendo que o acordo é “um elemento central da política comercial do México”. O presidente López Obrador, apesar de criticado por ter aceitado vários aspectos de interesse exclusivo dos EUA no plano, disse que “é um acontecimento importante, sobretudo no terreno econômico e comercial” e agradeceu muito ao legislativo mexicano que é composto em ampla maioria por seu partido MORENA. Uma reunião sobre o tratado está prevista para o próximo dia 8 de julho nos EUA. López Obrador já confirmou que vai, Justin Trudeau ainda não.

- Acontece hoje (2) por videoconferência a 56ª. edição da Cúpula de Chefes de Estado do MERCOSUL e Estados Associados. A reunião foi precedida, ontem, pela reunião ordinária do Conselho do Mercado Comum, no nível de ministros e com poder decisório. Termina a presidência do Paraguai e inicia a presidência do Uruguai. A reunião ocorre em meio a uma crise na condução da política externa do Uruguai, sendo que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Talvi, renunciou ontem ao seu mandato, após quatro meses no cargo, desde o início do governo de Lacalle Pou. Em sua carta de renúncia ele diz que sua intenção “era continuar na Chancelaria até o fim do ano, durante a presidência pro tempore do Uruguai no Mercosul”, mas desde o começo de junho já era considerado demissionário como relatei nas notas de ontem. Seu substituto será o atual embaixador do Uruguai na Espanha, Francisco Bustillo, diplomata de carreira e que foi embaixador por bastante tempo na Argentina. Bom lembrar que Talvi foi candidato a presidente na eleição que elegeu Lacalle Pou. Representando o Partido Colorado, ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições de 2019. Seu apoio a Lacalle Pou, do Partido Nacional, foi fundamental para a derrota da Frente Amplio por uma margem extremamente pequena de votos.

- Os EUA viveram ontem (1) um de seus piores dias como país na pandemia do novo coronavírus. Segundo o epidemiologista Anthony Fauci, pode se chegar ao número de 100 mil novas infecções/dia. Ontem foram registrados 52 mil novos casos. Segundo Fauci, “basta olhar os números, as pessoas estão adotando a abordagem do tudo ou nada quando se trata de distanciamento social e uso de máscaras”. Enquanto isso, o país comprou quase toda a produção até setembro do medicamento remdesivir. A fábrica Gilead Sciences vai fornecer 100% de sua produção de julho e 90% de sua produção de agosto e setembro para os EUA. Por enquanto, o remdesivir é o único medicamento aprovado por autoridades norte-americanas e europeias para o tratamento da covid-19.

- Em entrevista por videoconferência realizada ontem (1) na sede da OMS, o diretor geral, Tedros Adhanom, disse que “alguns países adotaram uma abordagem fragmentada. Esses países têm um caminho longo e difícil pela frente”. Nesta mesma conferência foi anunciado que a organização enviará dois especialistas de sua sede para a China onde se juntará a equipes que tentam analisar as origens do vírus.

- Neste momento há pelo menos três vacinas “competitivas” na corrida mundial por um imunizante para o coronavírus. Uma da empresa BioNTech em parceria com a Pfizer, que acabou de realizar seus primeiros testes. Uma da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca que já está na fase 3 de testes e está sendo testada no Brasil. E outra da chinesa Sinovac Biotech que tem parceria com o Instituto Butantan e também será testada no Brasil com cerca de 9 mil voluntários.

- Aquele anúncio de Trump de retirar soldados americanos da Alemanha foi transformado em um plano apresentado esta semana pelo secretário de Defesa, Mark Esper, e o chefe do Estado-Maior do Exército, Mark Milley. Serão remanejados 9500 soldados. Presentes na Alemanha desde o final da segunda guerra, hoje somam mais de 30 mil militares. Trump alega que a Alemanha se beneficia da presença militar norte americana sem contrapartidas, mas na verdade a medida está no bojo de uma série de disputas com a potente Alemanha, que acaba de assumir a presidência pro tempore da UE. Entre as disputas estão a aproximação da Alemanha com a China, a construção do gasoduto NordStream 2 com a Rússia e as diferenças em relação ao Irã.

- O tão propalado anúncio por parte de Israel do plano de anexação de territórios da Palestina estava previsto para ontem (1). Mas a pressão internacional parece estar surtindo efeito. Os comentários gerais são de que Netanyahu aguarda um sinal verde de Trump. O premiê britânico Bóris Johnson se pronunciou ontem e disse ser contrário ao plano. Há divisões internas no próprio governo israelense também. Uma ex-chanceler e ex-ministra da justiça israelense, Tzipi Livni, se somou aos que tentam demover o premiê da anexação. Segundo ela, em entrevista à CBC, “a ideia de uma anexação parcial que manteria os palestinos em enclaves com a faixa de gaza rodeada por territórios israelenses não é sustentável (...) seria preferível manter a rota para a paz aberta (sic) e não tomar medidas que nos levariam a todos ao ponto de não retorno”.

- Um pedido dos EUA na ONU foi embargado esta semana por Rússia e China no Conselho de Segurança da entidade. O pedido dos americanos era de prorrogação do embargo de armas contra o Irã que vai expirar em outubro. Com o embargo, o Irã fica proibido de adquirir armamentos no mercado internacional e também de vender suas armas. O embaixador chinês na ONU, Zhang Jung, disse que desde que saíram do acordo com o Irã, em 2018, os EUA não têm mais poder para exigir da ONU sanções contra o Irã. A representação da Rússia, Vassili Nebenzia, também disse que não é possível aceitar a tentativa dos EUA de “legitimar por meio da ONU sua política de pressão máxima”. O secretário de estado, Mike Pompeo, abandonou a videoconferência da reunião antes da fala do ministro de relações exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif.

- O Vietnã continua surpreendendo o mundo em sua política prevenção e cuidados com relação à Covid-19. O país simplesmente não teve falecidos pela doença, seis meses após o início dos casos na China em dezembro de 2019. Está em toda a imprensa hoje que um piloto escocês de 42 anos passou 68 dias hospitalizado com um respirador no país. Mais precisamente em Ho Chi Minh city. Ele foi o último paciente a estar em uma UTI no Vietnã por conta da doença e também o caso mais grave. Ficou conhecido como “paciente 91”. Um dos cuidados que ele recebeu foi através de uma máquina Ecmo que retira sangue do paciente, coloca oxigênio no sangue e volta para o paciente.





Notas internacionais (por Ana Prestes) – 01/07/20

- A Alemanha assume hoje, 1º. de julho, a presidência semestral do Conselho da União Europeia. Esta pode ser a última vez que Merkel dirige o bloco. Uma das pautas caras a Merkel e que será tratada nesse período é a do acordo comercial do bloco com o Mercosul. Há um pedido na mesa do ombudsman da UE para que o processo de ratificação do acordo seja interrompido. Entre os presidentes dos países do bloco, Macron é um dos que mais trabalha para a não ratificação do acordo, com foco principalmente no Brasil e no que ele vem chamando de “ecocídio” promovido pelo governo Bolsonaro. A intervenção de Macron vem no bojo do expressivo crescimento dos Verdes nas eleições municipais francesas do último final de semana. Pelo menos 265 organizações da sociedade civil europeia já assinaram documento contra o acordo. Os parlamentos da Holanda, da Áustria e da Valônia (região da Bélgica) já se posicionaram contra o acordo. A União Europeia e o Mercosul, juntos, representam aproximadamente 25% da economia mundial e um mercado de quase 800 milhões de pessoas.

- Acontece amanhã, 2 de julho, a passagem da presidência pró-tempore do Mercosul do Paraguai para o Uruguai. Participarão virtualmente quatro chefes de Estado dos países membros: Alberto Fernández, da Argentina; Jair Bolsonaro, do Brasil; Mario Abdo Benítez, do Paraguai e Luis Lacalle Pou, do Uruguai. A Venezuela também é país membro, mas sua participação está suspensa sob o argumento da cláusula democrática. Participarão ainda em reunião específica com representantes de Estados associados: Jeanine Añez, da Bolívia, Iván Duque, da Colômbia e Sebastián Piñera, do Chile. Como convidado especial estará o Alto Representante da União Europeia para Negócios Estrangeiros, Josep Borrell. Além do acordo com a UE, está na pauta o refinanciamento de dívidas do bloco com organizações internacionais, financiamento para a recuperação dos efeitos da pandemia e a busca de investimentos externos. O Uruguai quer deixar essa marca em sua gestão: atração de capital externo para o bloco. A cúpula acontece em momento tenso para a política externa uruguaia. Está em curso uma mudança na chancelaria. Sai o atual chanceler Ernesto Talvi e assume o atual embaixador do Uruguai na Espanha, Francisco Bustillo. Entre as discordâncias de Talvi com o governo que representava, de Lacalle Pou, estão o tratamento dispensado à Venezuela e o apoio de um candidato dos EUA à presidência do BID.

- O governo venezuelano rechaçou a presença no país da embaixadora representante da União Europeia após o bloco anunciar sanções contra 11 funcionários do governo. Isabel Brilhante Pedrosa foi convidada a se retirar. Durante o anúncio da decisão, o presidente venezuelano disse que “deve-se respeitar a Venezuela em sua integridade, como nação, como instituição”. Uma nova lei europeia de sanções a venezuelanos elevou para 36 o número de membros do governo de Maduro sujeitos às punições da UE, o que inclui proibição de viagens e congelamento de bens e ativos no continente europeu.

- Na China, foi aprovada ontem (30) a nova lei de segurança nacional para Hong Kong. A lei já havia sido aprovada pelo plenário do Congresso chinês, mas ainda faltava o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, uma espécie de mesa do congresso, aprovar. Houve uma votação unânime de aprovação por parte dos 162 membros do Comitê Permanente. A lei entra em vigor hoje, 1º. de julho, data de aniversário de 23 anos do retorno da soberania sobre o território da ilha do RU para a China.

- Esta semana, o Irã acusou Trump e outras 35 pessoas por assassinato e terrorismo no caso do assassinato do general Soleimani em janeiro. Soleimani morreu em um ataque feito por um drone nas proximidades do Aeroporto Internacional de Bagdad, no Iraque. Segundo o promotor de Teerã, Ali Alqasimehr, “36 indivíduos foram identificados em conexão com o assassinato. Eles supervisionaram, agiram e ordenaram. Isso inclui oficiais políticos e militares dos EUA e de outros países, para quem o judiciário emitiu mandados de prisão e a Interpol emitiu alertas vermelhos.” Em resposta, o representante especial dos EUA, Brian Hook disse que “a Interpol não intervém e emite alertas vermelhos baseados em questões políticas”. (BBC)

- Uma nota que me escapou esta semana foi sobre as eleições na Polônia no último domingo (28). O líder ultraconservador e atual presidente (desde 2015) Andrzej Duda venceu o pleito de domingo, mas não alcançou mais de 50% dos votos. Portanto, haverá segundo turno em 12 de julho. Seu adversário é o atual prefeito (desde 2018) da capital Varsóvia, Rafal Trzaskowski, membro da coalizão Plataforma Cívica, de cunho liberal e pró-União Europeia. Um dos temas que têm polarizado os eleitores entre as duas candidaturas é a questão LGBT, enquanto Duda diz que a “ideologia LGBT é o novo bolchevismo”, Trzaskowski é defensor da pauta.

- Termina hoje (1) na Rússia, o referendo popular sobre as mudanças constitucionais. A imprensa internacional diz que segundo as agências Interfax e RIA 73% dos russos votaram favoravelmente às mudanças.

Notas internacionais (por Ana Prestes) – 18/06/20

- Aconteceu no dia de ontem (17) um debate organizado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre racismo, brutalidade policial e violência contra manifestantes, ensejado pelo assassinato do norte-americano negro George Floyd por um policial branco nos EUA. A Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se referiu ao assassinato como “um ato de brutalidade gratuita”, parte do “racismo sistêmico que prejudica milhões de pessoas de origem africana”. Segundo ela, é preciso combater “a herança do tráfico de escravos e do colonialismo”. O irmão de George Floyd, Philonise, participou da webconferência por vídeo e pediu à ONU “ajuda para os americanos negros” com a criação de uma comissão de investigação independente sobre a violência policial contra os afro-americanos, proposta feita por vários países africanos. No entanto, nos bastidores, os EUA, que estão fora do CDH, fizeram muita pressão para retirar a menção a esta comissão do documento final da reunião que será votado hoje (18). A delegação brasileira na ONU foi uma das que atuou no sentido de proteger Trump de um documento mais duro por parte do CDH da ONU. Segundo a coluna do jornalista Jamil Chade, que vive em Genebra e sempre acompanha os bastidores da ONU, a representação do Itamaraty “não dirigiu sequer uma palavra de apoio à família da vítima e não citou os protestos pelas ruas em todo o mundo”, mas fez questão de enfatizar o importante “papel da polícia”. A delegação brasileira também se posicionou de forma contrária à criação de uma comissão de inquérito internacional para investigar os crimes cometidos nos EUA e outros países com situações semelhantes. Segundo a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, “o racismo não é exclusivo a nenhuma região específica”.

- Nos EUA, o ex-policial branco que matou no final de semana passada, em Atlanta, com dois tiros pelas costas o norte-americano negro Raysahrd Brooks recebeu ontem (17) 11 acusações, inclusive homicídio culposo, com intenção de matar. Se for considerado culpado poderá pegar prisão perpétua ou até pena de morte, que ainda é praticada no estado da Georgia. Vídeos mostram que mesmo após Brooks estar baleado, o então policial o chutou, demonstrando que não se tratava de legítima defesa. Os policiais envolvidos também recolheram várias balas no chão antes de prestar socorro a Brooks. O fato se deu no estacionamento de uma lanchonete, que foi incendiada mais tarde por manifestantes. O caso Brooks impulsionou ainda mais os protestos anti racistas nos EUA que já duram quase um mês.

- Um livro escrito pelo ex-assessor especial de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, anda agitando a cena política nos EUA. Bolton é um típico belicista norte-americano, tendo participado dos governos de Reagan, Bush pai e Bush filho. É um dos responsáveis pela Guerra do Iraque no começo do século, tendo “convencido” a comunidade internacional que havia armas químicas de destruição em massa no país, algo que se revelou falso mais tarde. Durante o governo Trump propôs ataques à Coreia do Norte, ao Irã e à Venezuela. É famosa uma frase dele de 1994: “não existe Nações Unidas”. Anos depois, foi embaixador dos EUA na ONU nomeado por Bush filho. Com esse currículo, não é estranho que Trump o tenha escolhido para ser assessor até que sua presença no governo ficasse inconveniente. Isso se deu pelo fato de Bolton ter presenciado a conversa de Trump com o presidente ucraniano Zelensky em que foi dada uma condicionante para que a Ucrânia recebesse ajuda financeira dos EUA. A condição era uma investigação que ajudasse a atingir Joe Biden, rival democrata. Um processo de impeachment de Trump foi aberto por conta desse caso. Bolton não chegou a depor sobre “o que sabia” no Senado durante o processo de impeachment, simplesmente porque o Senado não ouviu ninguém. O livro “The Room Where it Happened” de 577 páginas será lançado nos próximos dias e parece trazer revelações sobre outras práticas impublicáveis de Trump, todas calculadas para se manter no poder. Algumas engraçadas, como as perguntas de Trump se a Finlândia era parte da Rússia e se o Reino Unido tinha armas nucleares e outras mais séria como os pedidos para Xi Jinping ajudar em sua reeleição, pois os “democratas não gostam da China”.

- O Chile viu a pandemia do novo coronavírus ampliar seu alcance no país nas últimas semanas. O governo Piñera, com aval do Congresso, resolveu endurecer e adotar medidas de tolerância zero para quem descumprir a quarentena. Isso inclui multas e até penas de até 5 anos de detenção para quem der festas ou fizer shows, por exemplo. Movimentos sociais e setores democráticos temem que as medidas sirvam de justificativa para repressão da oposição ao governo Piñera. Segundo a subsecretária do interior do governo, Katherine Martorell, “as pessoas só poderão sair duas vezes por semana para realizar procedimentos essenciais e excepcionais”. O Chile é hoje o 9º. país do mundo no ranking da pandemia.

- A prisão de uma enfermeira em protestos na França no último dia 16 provocou uma forte reação da oposição a Macron no país. Cerca de 10 policiais prenderam de forma brutal a enfermeira Farida, uma mulher de 50 anos, que nos últimos três meses trabalhou entre 12 e 14 horas, segundo seu filho. Ela teve a Covid-19 e estava se manifestando por melhora nas condições de trabalho, aumento de salário e reconhecimento do seu trabalho. No vídeo que mostra a prisão, Farida tentava recuperar seu inalador, por ser asmática e tinha as roupas rasgadas. Vários protestos ocorreram nesse dia na França puxados por profissionais da área da saúde, em Paris, Nantes, Lyon e outras cidades. Várias terminaram com repressão policial.

- O presidente chinês, Xi Jinping, anunciou ontem (17) que a China vai perdoar os juros da dívida de alguns países africanos que estejam para vencer até o final de 2020. Prometeu ainda maior apoio aos países africanos mais afetados pela pandemia do coronavirus. O anúncio foi feito durante a Cúpula China-África de Solidariedade contra a Pandemia da Covid-19 que ocorreu por videoconferência. O presidente chinês instou ainda os demais países do G20 a fazerem o mesmo. Durante a cúpula foi lançada também a Plataforma de Compras de Material Médico da União Africana (hoje presidida pela África do Sul) que visa proporcionar acesso a materiais e equipamentos médicos necessários ao combate da pandemia.

- O primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, falou para a rede de televisão do país sobre os 20 soldados indianos mortos na fronteira com a China em Ladakh, região do Himalaia. Segundo ele, “as mortes não serão em vão”. Já as autoridades chinesas dizem não querer conflito. Nas palavras do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, “no que diz respeito a China, não queremos ver mais confrontos com a Índia”. Em maio deste ano, o jornalista Pepe Escobar já havia falado da iminência de um choque entre as duas potências nesta fronteira. Em seu artigo, Pepe dizia que “seria contraprodutivo para a Índia e a China, ambas membros do BRICS e da Organização de Cooperação de Xangai, irem às vias de fato por causa de alguns passos de montanha gelados e extremamente remotos (...) mas quando olhamos para a Linha de Controle Real de 3488 quilômetros de extensão, que a Índia define como ‘não-resolvida’, essa possibilidade não pode ser afastada de todo". Na região passa uma rodovia que vai do Tibet até o sudoeste da província de Xinjiang que entrecruza o corredor econômico China-Paquistão, como parte da iniciativa Cinturão e Rota chinesa. Um pedacinho intrincado do mundo entre três potências nucleares: China, Índia e Paquistão. No atual conflito tanto a Índia, como a China, reclamam de invasão das linhas demarcatórias da fronteira. Ano passado, o consultor em Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, e o ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, se encontraram para tratar a questão, mas parece não ter dado muito certo por enquanto.

- Outro conflito, entre as duas Coreias, também segue se aprofundando depois da explosão de um edifício de escritórios que abrigava as reuniões de autoridades negociadoras dos dois países. Segundo a agência norte-coreana KCNA, Kim Yo Jong, irmã do líder Kim Jong-un rejeitou um aceno por parte de Seul de enviar negociadores. Houve reação de Seul. A nova crise foi motivada por envio de panfletos apócrifos provocadores do Sul para o Norte.




 Notas internacionais (por Ana Prestes) – 17/06/20

- O BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, é presidido há 15 anos por um colombiano, Luis Alberto Moreno. Seu mandato está terminando e após seguidas reeleições (os mandatos são de cinco anos) não pretende renovar seu mandato em setembro de 2020. O governo brasileiro, via Paulo Guedes, vem trabalhando na candidatura de um brasileiro, Rodrigo Xavier, ex-presidente do Bank of America no Brasil, para rivalizar com o candidato argentino e assumir o posto. O Brasil já havia inclusive avisado o Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, da candidatura. Argentina e México estão trabalhando na candidatura de Gustavo Beliz, argentino e atual Secretário de Assuntos Estratégicos do governo de Fernández. A tradição (desde a fundação em 1959) é uma rotação da presidência entre os países latino-americanos e os EUA ficam de fora da presidência por serem os maiores acionistas e sede do banco em Washington. Esta semana, no entanto, os EUA anunciaram que querem o posto para Mauricio Claver-Carone, atual diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA. Um cubano-americano conhecido por sua linha dura com relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Recentemente, durante a posse presidencial de Alberto Fernández na Argentina, ele se retirou do evento antes de seu desfecho como forma de “protesto” por conta da presença de um representante do governo da Venezuela e de Rafael Correa, ex-presidente do Equador. Claver-Carone tem se dedicado, ao longo do governo Trump, a estrangular a Venezuela economicamente. Agora vai ganhar um prêmio.

- O ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán, deu uma entrevista à Folha de São Paulo. Atualmente ele tem a missão de administrar uma dívida herdada do governo Macri que está na casa dos 65 bilhões de dólares. Uma parcela de 503 milhões venceu no final de maio e ele conseguiu uma nova ampliação do prazo de pagamento. Até agora, nenhum credor declarou a Argentina em moratória. Na entrevista, ele fala da importância de uma aproximação do Brasil e que desde o início do governo (dezembro de 2019) ainda não teve a chance de conversar com o ministro brasileiro Paulo Guedes, a não ser em fóruns comuns. Sobre o acordo do Mercosul com a União Europeia, ele diz que a negociação foi feita “sem transparência e sem legitimidade com relação à sociedade”. Segundo ele, o Mercosul deveria ser mais que um acordo econômico, mas também fonte de intercâmbio cultural e social. Ele discorre ainda sobre os erros econômicos do governo Macri e como tem se dado a relação com o FMI e os maiores credores da dívida.

- Ainda sobre o Mercosul e o acordo com a União Europeia, cinco ONGs pediram à Defensora Pública Europeia, Emily O’Reilly, que suspenda o processo de ratificação do acordo. São elas: Federação Internacional dos Direitos Humanos, ClientEarth, Instituto Veblen, Fern e Fundação Nicolas Hulot. A argumentação das organizações é de que a União Europeia não levou em conta o impacto ambiental do acordo. No comunicado das ONGs se lê que “a Comissão Europeia não respeitou sua obrigação legal de garantir que este acordo não implique degradação social, econômica e ambiental ou violações de direitos humanos”. As entidades pedem que, após realizado um relatório da avaliação do impacto do acordo, seja feita uma consulta à sociedade civil sobre as conclusões e recomendações.

- Esta semana, o presidente Trump esqueceu um pouco a China e está focado em atacar a Alemanha. Desde o começo da semana vem dizendo que a Alemanha não investe na OTAN e que vai reduzir o contingente militar dos EUA no país europeu. Tropas militares estadunidenses estão na Alemanha desde o final da Segunda Guerra Mundial, há uma confusão de números, mas presume-se que há entre 35 mil a 50 mil oficiais militares dos EUA no país. No seu tom chantagista já conhecido, Trump disse que vai retirar cerca de 10 mil militares mas que eles poderão voltar caso o governo alemão invista mais na sua área de defesa. Segundo Trump, os alemães “não gastam suficiente” com defesa. Ele está se referindo ao fato da Alemanha não seguir a recomendação para os integrantes da OTAN de gastar 2% do seu PIB no setor da Defesa. Em 2019 a Alemanha gastou um 1,38% do seu PIB neste setor (dados de reportagem do O Globo). Outro ataque reiterado à Alemanha e deste já falei muitas vezes aqui nestas notas, é quanto a oposição de Trump à construção do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha. Os EUA apertaram ainda mais as sanções econômicas às empresas envolvidas na construção. O trabalho final de construção do gasoduto está parado desde dezembro na região da Dinamarca, segundo a DEA (Denmark’s Energy Agency), quando embarcações com âncoras de uma empresa suíço-alemã foi impedida de finalizar cerca de 120 km do oleoduto nas águas dinamarquesas. O aperto dos ataques de Trump a Merkel ocorre em momento em que ele precisa de inimigos externos para mostrar seu poderio para seu público interno. Ele também se irritou com a recusa da chanceler de participar de uma reunião presencial da cúpula do G7. Os EUA estão na presidência do bloco e Trump insiste que a reunião seja presencial, inicialmente junho e agora marcada para o segundo semestre sem data precisa. Merkel disse que não participaria presencialmente por conta da pandemia.

- A luta contra o coronavirus parece ter dado um passo importante esta semana com a descoberta de um medicamento eficaz para os casos mais graves da doença. Segundo o presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, trata-se do primeiro tratamento que comprovadamente reduz a mortalidade em pacientes que apenas conseguem respirar com o uso de respiradores. O medicamento é a dexametasona, um corticoide usado para combater inflamações e promover imunossupressão há 60 anos. Utilizado para artrite reumatóide, alergias, asma e outras enfermidades inflamatórias ou que necessitam de diminuir a super-reação imunológica do organismo (alergias, por exemplo). Amplamente utilizado na medicina há décadas, é considerado seguro quando adotado na dose correta e por um tempo determinado. A descoberta da eficácia da dexametasona para o tratamento dos pacientes graves da Covid19 foi feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, em conjunto com o governo britânico e hospitais do Reino Unido. Além dos pacientes que se submeteram ao tratamento. Segundo o secretário de saúde do NHS (sistema público de saúde do RU) o medicamento será incluído no protocolo de tratamento padrão da covid-19. Com o uso do remédio, até um terço dos pacientes britânicos com covid-19 que estavam usando respiradores deixaram de morrer.

- A pandemia do coronavírus começa a ganhar mais proeminência na África. Pelos dados da OMS, em uma semana, o número de novos casos e mortes aumentou em 25%, passando de 201 mil mortos para quase 260 mil. As mortes passaram de 5400 para quase 7 mil. Os países que lideram em número de casos e mortes são ainda África do Sul, Egito, Nigéria e Argélia, como já havia reportado aqui nestas notas. Outra preocupação que se agrava no continente é quanto à segurança alimentar, em especial na África Subsariana. O número de pessoas que passam fome na região pode chegar a 250 milhões, em alguns países a mais de 70% da população. Isso se deve não só ao coronavírus, mas às pragas de gafanhotos, as secas, os ciclones Idai e Kenneth.

- Nos EUA seguem os protestos anti racistas enquanto o país entra em um profundo debate sobre uma reforma do sistema policial. O presidente Trump acabou de assinar uma ordem executiva para “práticas melhores” nas polícias. Ao assinar, disse que é fortemente contrário à dissolução dos departamentos de polícia. Nos estados discutem-se medidas mais duras, inclusive sobre o fim da polícia, em alguns deles. No congresso, republicanos e democratas também estão discutindo reformas, inclusive com duras críticas à proposta de Trump que não responde aos clamores das ruas. Uma das lideranças da Anistia Internacional nos EUA, Kristina Roth, disse que proposta de Trump é como colocar um band-aid sobre um corpo alvejado por balas.







 Notas internacionais (por Ana Prestes) – 16/06/20

- O mundo já possui 8 milhões de infectados registrados pelo novo coronavírus, destes, 25% estão nos EUA, o Brasil vem em segundo lugar. O número de mortes está próximo de 450 mil. A China, que sofreu o primeiro surto de infecções pelo vírus, volta a registrar casos. Na capital Pequim já são pelo menos 30 áreas residenciais em quarentena e os casos de contaminados estão aumentando gradativamente nos últimos dias. Foram mais de 100 infectados nos últimos 5 dias, alguns vieram do exterior. Ontem comentei aqui nas notas sobre o mercado Xinfadi, um dos maiores de toda a Ásia, que precisou ser fechado. Hoje há notícias de que outros também foram fechados. Vários tipos de transporte foram suspensos. Até mesmo um dos países de maior sucesso de combate ao vírus, a Nova Zelândia, voltou a registrar casos. Duas mulheres que voaram de Londres para ver o pai que estava morrendo e deram positivo para o coronavirus. Para poder ver o pai, elas foram autorizadas a viajarem internamente no país, antes de cumprir a quarentena obrigatória para todos que chegam de fora. A Nova Zelândia não registrava nenhum caso há três semanas e todos os contaminados estavam curados.

- O presidente Putin, da Rússia, criticou ontem (15) a forma como Trump vem enfrentando a pandemia nos EUA. Com mais de 500 mil casos de infectados, a Rússia é o terceiro país hoje no ranking da pandemia, atrás dos EUA e do Brasil. Morreram quase 7 mil pessoas de Covid-19 no país até o momento. Nas palavras de Putin, em entrevista à TV Estatal, “estamos trabalhando com tranquilidade e nos recuperando dessa situação do coronavírus com confiança e com perdas mínimas... Mas nos Estados Unidos isso não está acontecendo”. O presidente russo ainda disse: “não consigo imaginar alguém do governo (russo) ou das administrações regionais dizendo que não fará o que o governo ou o presidente dizem para fazer (...) Parece-me que o problema (nos EUA) é que os interesses político-partidários são colocados acima dos interesses da sociedade como um todo, acima dos interesses do povo”.

- As últimas horas foram de tensão entre as duas Coreias. Um escritório de conversações, estabelecido nas últimas tentativas de reaproximação dos dois países em 2018, localizado em região de fronteira, na cidade de Kaesong, foi implodido. Há notícias de que um grupo provocador espalhou panfletos apócrifos como se a Coreia do Sul estivesse ofendendo a Coreia do Norte.

- A fronteira da Índia com a China também está sob tensão nos últimos dias. É o primeiro conflito armado entre os dois países desde 1975. Aconteceu na região do Himalaya, em Ladakh. Há semanas a tensão está aumentando na região, que possui uma fronteira de 3500 quilômetros e nunca foi demarcada com precisão. Soldados de ambos os lados, mas especialmente indianos, reportam desrespeito das linhas demarcadas pelos oficiais dos dois países.

- O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse ontem (15) que a organização vai discutir essa semana se prossegue com os estudos clínicos sobre os efeitos da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. O anúncio foi feito no mesmo dia em que os EUA, via FDA (Anvisa deles), anunciaram a suspensão da autorização emergencial do uso do medicamento para pacientes infectados com o coronavírus. Segundo a agência governamental, com base nas evidências científicas disponíveis, não é razoável acreditar que o produto possa ser efetivo para tratar ou prevenir a Covid-19. O vai e vem com os testes da cloroquina é uma verdadeira novela dentro da pandemia. Foi nesse contexto que também ontem (15), perguntado por uma jornalista brasileira, Raquel Krahenbuhl, se continuaria enviando milhões de cápsulas dos medicamentos para o Brasil, que Trump respondeu: “sim, eu não posso reclamar, eu tomei por duas semanas e ainda estou aqui”. E ainda completou, “muita gente me diz que isso pode salvar vidas”, mostrando desconhecer a decisão da FDA.

- A Suécia ficou mesmo como o patinho feio entre os países nórdicos quando se trata de coronavírus. Dinamarca, Finlândia e Noruega se recusaram a autorizar a entrada de viajantes vindos do país vizinho onde a taxa de contaminação pelo vírus é bastante superior à desses países. Ao longo da pandemia, desde março, a Suécia não fechou suas fronteiras e optou por não estabelecer quarentena para sua população. A estratégia era deixar o vírus circular até este perder força naturalmente. Mas rapidamente o país passou a liderar o ranking de número de mortos e chegou a registrar até 48 óbitos a cada 100 mil habitantes.

- A Suprema Corte dos EUA decidiu ontem (15), por seis votos a três, que homossexuais e transgêneros não podem sofrer discriminação no ambiente de trabalho por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A decisão é a mais importante para a comunidade LGBT dos EUA desde a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015.

- Na Colômbia, um escândalo envolvendo a vice-presidente fez com que o presidente Ivan Duque e o ex-presidente Alvaro Uribe tivessem que se pronunciar. Ambos a defenderam. Foi revelado que a vice-presidente do país, Marta Lucía Ramírez, esteve envolvida e acobertou o irmão, Bernardo Ramírez Blanco, condenado por narcotráfico nos EUA. Em uma entrevista publicada ontem (15) no jornal El Tiempo, Marta disse que o presidente Ivan Duque “não sabia de nada”. A vice-presidente já foi Ministra da Defesa na gestão de Álvaro Uribe e responsável por zonas francas em várias regiões do país. Senadores da oposição, como Gustavo Petro, que rivalizou com Duque nas últimas eleições presidenciais, estão pedindo a renúncia da vice-presidente. Há rumores inclusive de que ela possa ser enviada para ser embaixadora do país nos EUA (providencial, não?).

- O Mercosul, que está sob presidência paraguaia, vai realizar pela primeira vez em sua história uma cúpula presidencial a distância. A Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum (CMC) e a Cúpula dos Presidentes do MERCOSUL e Estados Associados, assim como as reuniões dos órgãos decisórios do bloco vão ocorrer entre 29 de junho e 2 de julho por vídeo conferências. O encontro marcará o fim da presidência do Paraguai. O Alto Representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Josep Borrell, também está convidado.

- Na Bolívia, no último domingo, cerca de 200 policiais foram mobilizados para cercar e invadir a residência do Embaixador do México em La Paz. Os policiais, segundo o jornalista Freddy Morales, da TeleSur, foram posicionados de forma provocadora, armados, acompanhados de cachorros e portando equipamentos de dispersão anti-motim. Após uma tentativa de entrada no prédio, foram demovidos quando as autoridades mexicanas reagiram e fizeram contato direto com a presidente de fato Añez. Dentro do edifício encontram-se dirigentes do MAS que estão exilados e sem autorização do governo golpista para deixar o país.

- O chanceler uruguaio, Ernesto Talvi, deixará o cargo que ocupa há apenas três meses, desde a posse de Lacalle Pou. A diferença entre ele e o governo de Pou é quanto à designação da Venezuela como uma “ditadura”. Segundo ele, deveria ser usada uma “linguagem respeitosa” em relação ao país. Seus comentários sobre a Venezuela geraram tensão no interior da coalizão de direita pela qual Lacalle Pou se elegeu.

- No México, quase 100 milhões de pessoas podem ficar na faixa da pobreza como efeito da pandemia pelo novo coronavírus. Os dados são da EQUIDE (Instituto de Investigaciones para el Desarrollo con Equidad) da Universidade Iberoamericana da Cidade do México. Cerca de 76,2% dos lares podem ser afetados com desemprego, perda de renda e insegurança alimentar. Segundo a pesquisa, 1 a cada 3 lares teve uma redução de mais de 50% de sua renda.

- O presidente mexicano, López Obrador, anunciou ontem (15) em uma conferência de imprensa em Xalapa, no estado de Veracruz, que no caso de receber uma solicitação formal por parte da Venezuela para compra de combustível do México, o fará sem levar em consideração o embargo econômico imposto ao país por parte dos EUA. “México é um país independente, soberano, tomamos nossas próprias decisões e não nos metemos com as políticas de outros países”, disse AMLO.





Notas internacionais (por Ana Prestes) – 15/06/20

- Mesmo em meio aos maiores protestos anti racistas dos EUA desde os anos 60 do século passado, mais um negro foi assassinado por um policial branco na última sexta-feira (12) em Atlanta. Rayshard Brooks, de 27 anos, foi duplamente baleado pelas costas no estacionamento de uma lanchonete (incendiada horas depois por manifestantes). Segundo a polícia de Atlanta e os vídeos das câmeras do local, ele teria sido abordado por estar dormindo dentro do carro e submetido ao teste de bafômetro foi identificado que estava alcoolizado. Os policiais então tentaram algemá-lo, quando ele lutou, correu e recebeu os disparos pelas costas. É muito improvável que um branco na mesma situação de Brooks fosse abordado e alvejado assim. O policial foi demitido imediatamente e a chefe da polícia no local pediu demissão enquanto os protestos avançavam por toda Atlanta. Já começou uma campanha para que o policial seja acusado de assassinato e cumpra pena por isso. É raro nos EUA que policiais nesta situação sejam punidos severamente. No 20º. dia seguido de protestos, o assassinato em Atlanta aumentou a revolta de quem vem se mobilizando contra a violência policial racista. Brooks deixou esposa e três filhas, com 1, 2 e 8 anos de idade, além de um enteado de 13.

- A China entrou em alerta no final de semana pelo risco de um novo surto provocado pelo coronavírus, desta vez na província de Liaoning, próxima a Pequim, no nordeste do país. As novas infecções estão ligadas a um mercado de alimentos de Pequim, segundo a imprensa internacional. Quase todas as pessoas infectadas estiveram no mercado (ou em contato com alguém que esteve) de Xinfadi, considerado o maior mercado de alimentos de toda a Ásia. Em entrevista coletiva dada ontem (14), o porta-voz do governo de Pequim, Xu Hejian disse que “Pequim entrou em um período extraordinário”. O mercado foi fechado e todo o distrito onde está localizado recebeu o status de “estado de emergência de guerra”. Além de Liaoning, outras 10 cidades próximas estão em estado de alerta.

- Desde o final da semana passada, começou no Brasil uma ofensiva contra o 5G da Huawei. A pressão dos americanos tem surtido efeito e o governo Bolsonaro vai alinhando seu discurso pró EUA com relação à instalação da tecnologia 5G no país. Na quinta (11), Bolsonaro disse que o leilão do 5G no Brasil vai levar em conta “soberania, segurança dos dados e política externa”. Sua fala foi embasada por uma nota técnica do Itamaraty, preparada por Ernesto Araújo e General Heleno que contraria os técnicos que vinham trabalhando com esta matéria no Ministério da Ciência e Tecnologia. No documento de Araújo, segundo reportagem da FSP que teve acesso ao texto, não há evidências técnicas de possíveis falhas de segurança dos equipamentos da Huawei que pudessem facilitar ataques de hackers ou roubos de dados pela fabricante. Araújo ainda justifica o rechaço à China em tons de chantagem. Diz que EUA, Brasil e Austrália são os maiores fornecedores de matérias primas e alimentos para a China e que ela teria que “continuar comprando” desses países, mesmo que eles vetem a Huawei. Em outra frente, sobre o mesmo tema, o governo dos EUA já discutem com o governo e empresas brasileiras o financiamento para compra de equipamentos da Ericsson e da Noquia para a montagem de uma infraestrutura do 5G. O embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, tem se referido ao tema como algo de interesse da segurança nacional do seu país. O financiamento seria pelo International Development Finance Corporation, uma banco de fomento criado por Trump em 2018, como rival do Banco do Brics e do Banco de Desenvolvimento da China que ampara o Cinturão e Rota da China.

- A Comissão Europeia está incentivando todos os países membros da UE a colocarem fim aos controles de fronteira e permitirem a livre circulação a partir de 15 de junho (hoje). Nas palavras da comissária para o interior, Ylva Johansson, “recomendamos que as fronteiras internas sejam abertas o mais rápido possível”. A covid-19 causou mais de 170 mil mortes na UE e levou a um bloqueio da circulação interna de forma inédita no bloco. A reabertura foi endossada pelo Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC). Segundo um informe da organização, “nos últimos 14 dias, salvo em algumas regiões, a EU registrou menos de 100 novas infecções para cada 100 mil habitantes”. Alguns países, como a Espanha, estão resistentes à abertura. Para viajantes de fora da UE, como do Brasil, a entrada ainda não será permitida, a não ser que o país de origem esteja em situação epidemiológica igual ou melhor que a do continente, com capacidade de implementar medidas como o distanciamento seguro e outras formas de evitar contágio no trajeto, além da reciprocidade, ou seja, permitir a livre entrada dos passageiros europeus.

- O Superior Tribunal de Justiça da Venezuela (TSJ) anunciou na última sexta (12) a designação dos cinco membros do novo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Pela constituição venezuelana, o CNE deve ser designado pela Assembleia Nacional, mas como há uma contenda entre governo e oposição sobre a validade das resoluções aprovadas na Assembleia, a designação foi feita pelo TSJ. Segundo o calendário eleitoral da Venezuela, este ano estão previstas eleições parlamentares. As últimas eleições foram em 2015. Apesar do principal (em termos de exposição midiática e internacional) opositor de Maduro, Juan Guaidó, não reconhecer a designação do TSJ, partidos de oposição solicitaram ao tribunal a declaração de “omissão legislativa” por parte da Assembleia Nacional para designar os membros do CNE.

- O Líbano voltou a ter fortes protestos de rua. Iniciados em outubro do ano passado, os manifestantes estiveram imobilizados pela pandemia até agora, mas retornaram com força. As mobilizações pedem eleições antecipadas, direitos humanos básicos e melhores condições de vida. Em 2019, os protestos culminaram com a demissão do então primeiro ministro Saad Hariri. Em janeiro assumiu um novo premiê, Hassan Diab. Desde outubro, a moeda local, libra libanesa, já perdeu 70% de seu valor perante o dólar, a inflação está disparada e o desemprego está na casa dos 35%. No Líbano há uma divisão de poderes entre o primeiro ministro, o presidente da república e o líder do parlamento que obedece a uma divisão por forças político-religiosas. O premiê é sunita. O presidente é cristão-maronita. O chefe do parlamento é xiita. O país é formado por uma maioria muçulmana, cerca de 60% e uma minoria cristã, cerca de 40%.

- A presidente de fato da Bolívia, Jeanine Añez, continua tentando adiar as eleições presidenciais do país. Na última sexta (12) ela decidiu não promulgar a lei aprovada pelo Congresso boliviano e que estabelece uma nova data para o pleito. Pediu ainda ao congresso que prove epidemiologicamente que é seguro fazer eleições em 6 de setembro. No fundo, está criando pretextos para adiar as eleições. O confronto tem se dado entre Añez e a presidente do Senado, Eva Copa, parlamentar do MAS, partido do ex-presidente Evo Morales. Neste momento,há dez candidatos presidenciais e Luis Arce, do MAS, lidera as pesquisas de intenção de votos. Enquanto a Bolívia vive esse cenário de incerteza e violência contra opositores ao governo golpista de Añez, cresce na imprensa internacional a divulgação de que o relatório da OEA que apontava como fraudulenta a eleição que reelegeu Evo está cheio de irregularidades. Artigo do NYT sugere de forma contundente que é “impossível garantir a integridade dos  dados e certificar a precisão”, referindo-se ao relatório da OEA. A matéria do NYT, replicada no Brasil pelo The Intercept Brasil, se apoia em um estudo realizado por pesquisadores de universidades norte-americanas que se baseou nos dados apresentados pela OEA e afirmou que é impossível “replicar as conclusões da OEA usando suas provas técnicas” e que “a diferença é significativa”. Em resumo: os dados apresentados pela OEA para provar uma suposta fraude, quando re-analisados, não levam à mesma conclusão.

- Circula pelo mundo uma petição para que seja outorgado às brigada médicas internacionais cubanas.



*Notas internacionais (por Ana Prestes) – 03/06/20*

- O Brasil já possui mais de 30 mil mortes por Covid-19. No começo de maio havia aproximadamente 6 mil mortes. Em um mês foi multiplicado por cinco o número de vítimas. Em número de infectados já passamos de meio milhão. *Em número de casos somos o segundo maior do mundo*, atrás apenas dos EUA. Em número de mortes só ficamos atrás dos EUA, Reino Unido e Itália. Nossa curva está na ascendente. Podemos chegar ao posto de país mais afetado. *Única conquista internacional possível ao governo Bolsonaro*.

- O Brasil vem perdendo rios de dólares de investidores estrangeiros. A informação está no Financial Times e foi replicada pelo Meio. *De fevereiro a maio já saíram 11,8 bilhões de dólares da Bolsa* e entre fevereiro e abril, 18,7 bilhões do mercado de títulos. A taxa de saída é o dobro da verificada em 2008, durante a crise econômica mundial. Pandemia combinada com crise política diferencia o Brasil de outros países considerados “emergentes” e que não estão perdendo tantos investimentos externos.

- Os protestos antirracistas iniciados nos EUA no último dia 26 de maio, após o assassinato de George Floyd por um policial branco, sufocado até a morte em Minneapolis, seguem intensos e ontem (2) foram bastante fortes na Europa. Em especial na França. As ruas de Paris foram tomadas por milhares de pessoas que infringiram as determinações da quarentena. A França foi um dos países mais afetados pelo coronavírus na Europa e não estão permitidas concentrações de mais de 10 pessoas. O protesto foi convocado para frente do Tribunal de Paris. Para além da alusão ao assassinato de Floyd, os *franceses que protestaram denunciaram a morte de Adama Traoré*, um homem negro de 24 anos que morreu em 2016 em uma delegacia de Paris duas horas após ser preso. Segundo sua família, ele foi violentamente agredido no momento da prisão. Aliás, o protesto de ontem foi organizado e chamado por um comitê de apoio à família de Adama. A irmã de Adama, Assa Traoré, disse à Rádio França Internacional: “hoje não é apenas o combate da família Traoré, é o combate de todos vocês. Hoje, quando lutamos por George Floyd, lutamos por Adama Traoré”. Na verdade, a ocorrência do protesto no mesmo momento em que se dão os protestos nos EUA foi uma coincidência que fortaleceu o ato, pois a família de Traoré já estava mobilizando ativistas desde a semana passada quando saiu uma *perícia do caso que descartava a responsabilidade dos policiais franceses e uma perícia independente soltou seus resultados apontando que ele recebeu socos na barriga na hora da prisão*. (infos da RFI e da AFP)

- E enquanto os protestos seguem fortes nos EUA, assim como sua repressão violenta que aumenta a cada dia, o *Papa Francisco também se pronunciou*. Nesta manhã (3) ele disse: “caros irmãos e irmãs dos EUA, sigo com grande preocupação as dolorosas desordens sociais que estão ocorrendo emsua nação nesses dias após a trágica morte do senhor George Floyd”. O que o Papa chama de “desordens sociais” na verdade são marchas e mobilizações permanentes em sua grande maioria pacífica, mas que também conta com grupos que fazem depredações e saques como forma de se manifestar. Várias cidades estão com toque de recolher e ostensiva presença de forças de segurança. *Até mesmo a guarda nacional de fronteira, famosa por sua brutalidade contra os migrantes, está sendo mobilizada por Trump, como denunciou a deputada democrata por NY, Ocasio Cortez*. As informações de ontem (2) eram de que o Pentágono havia mobilizado cerca de 1600 soldados para postos militares na área de Washington. Em uma de suas demonstrações de força, o governo colocou um helicóptero para sobrevoar com proximidade um grupo de manifestantes na capital na noite de segunda (1). Manifestações foram fortes ontem em Houston, Los Angeles, Washington, Nova Iorque, Minneapolis e diversas outras cidades por todo o país.

- E sobre os protestos antirracistas nos EUA e a violenta repressão das forças policiais e ameaças de Trump de usar a Guarda Nacional e as Forças Armadas, a *China se manifestou* através do porta-voz de seu ministério das Relações Exteriores, Lijian Zhao. Ele questionou: *“por que os EUA glorificam as ditas forças pró-independencia de Hong Kong como heroicas, mas chamam manifestantes desapontados com o racismo no seu país de arruaceiros?”*. O questionamento veio após uma decisão americana de limitar a entrada de cidadãos chineses no país e encerrar benefícios comerciais a Hong Kong em retaliação à nova Lei de Segurança Nacional da China em relação a Hong Kong aprovada pelo parlamento chinês no último 27 de maio.

- *Venceu ontem (2) mais um prazo para pagamento de parcela da dívida argentina e deve haver nova extensão do prazo*. Há elementos de que um acordo está se consolidando entre credores e governo. O montante em questão é da ordem de 68 bilhões de dólares. O debate no momento é sobre a taxa de juros a ser empregada, a Casa Rosada quer 3% e os credores topam 4,2%. Está em negociação também o período de congelamento do pagamento pedido pelo governo argentino, se de três ou dois anos. É bom lembrar que quando falamos “credores” trata-se de um grupo heterogêneo, amplo, complexo e com interesses diversos. A Argentina está em default desde 22 de maio, o que impacta nas suas possibilidades de participação no mercado internacional de créditos. Bom lembrar também que esta dívida em negociação não é a dívida do empréstimo de Macri como FMI (57 bilhões de dólares, com 44 bilhões já liberados). Esta outra dívida será negociada na sequencia. *Macri não deixou poucos problemas para Fernández.*

- Em franca provocação com Merkel e outras lideranças do *G7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Reino Unido e Japão), Trump está fazendo anúncios de modificações para a próxima reunião da qual o país será sede*. Disse que quer ver o Fórum ampliado e atualizado. Afirmou recentemente, sem citar o Brasil, que a Rússia deve voltar ao grupo e que vai convidar Austrália, Coreia do Sul e Índia para participarem. Disse também que vai colocar a China no centro do debate. Ontem (2) Bolsonaro disse que o Brasil também está convidado para o G7 “expandido”. A princípio a reunião seria em junho, mas pela pandemia foi adiada e deve ocorrer em alguma data entre setembro e novembro.

- Sobre o convite à Rússia para participar do G7, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o presidente *Putin é defensor do diálogo emtodas as direções, mas que precisa receber mais informações para responder ao convite*. Segundo o Kremlin, Moscou precisa saber o que estará na agenda do encontro e qual será o formato da mesma. A Rússia foi vetada no antigo G8 em 2014 quando houve o referendo popular para reincorporação da Crimeia no país, anteriormente vinculada à Ucrânia. A região da Criméia é fonte de permanente tensão entre a Rússia e a Ucrânia.

- O governo da *Suécia começa a dar sinais de admissão de falhas na condução da resposta local ao novo coronavírus*. O epidemiologista Anders Tegnell, especialista responsável pela estratégia suéca de enfrentamento da pandemia, deu uma entrevista a uma rádio suéca que está repercutindo bastante. Ele diz: “se estivéssemos diande da mesma doença, com o mesmo conhecimento que temos hoje, acho que a nossa resposta seria alguma coisa entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez” e complementou, “claramente, há potencial de melhoria no que fizemos na Suécia”. Desde o início da crise, a Suécia apelou para a responsabilidade individual de proteger seus familiares e pessoas mais vulneráveis e fez poucas restrições à mobilidade de seus cidadãos. Apear de universidades fechadas e lares de idosos com visitas proibidas, escolas, restaurantes e comércio ficaram abertos. A taxa de mortes por 100 mil habitantes na Suécia é de 43,3, segundo a Johns Hopkins University. Nos países vizinhos da Dinamarca é de 9,9, na Finlândia é de 5,8 e na Noruega é de 4,4. E mesmo tendo adotado medidas frouxas para o “bem da economia”, a Suécia pode ter uma queda em 7% de seu PIB segundo a ministra das Finanças, Magdalena Andersson. (com infos da DW)

- A *missão da ONU na Líbia (UNSMIL) informou no começo desta semana que um plano de conversações entre as partes conflitantes está avançando*. Desde abril de 2019 um Exército de Libertação Nacional da Líbia liderado por Khalifa Haftar tenta tomar a capital Trípoli, hoje comandada pela GNA (Governo do Acordo Nacional) que é o governo reconhecido pela ONU. A situação é bastante complexa e a região acabou se transformando em área de disputa entre a Turquia de um lado e Rússia, Egito e Emirados Árabes do outro, apoiando Haftar.


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*Notas internacionais (por Ana Prestes) – 27/05/20*

- Segundo a OPAS, Brasil, Chile, Equador, Peru e México são os países latino-americanos que apresentam dados mais preocupantes no tocante ao controle da pandemia pelo novo coronavírus. O *Brasil tem o triste título de campeão mundial em mortes de profissionais de enfermagem* durante a pandemia do novo coronavírus. Já são mais de 16 mil infectados e 150 mortos.

- Dados de uma pesquisa da Universidade de Washington indica que o *Brasil poderá chegar a 125mil mortes por covid-19 até o início de agosto*. São Paulo terá maior concentração de falecidos, podendo passar dos 30 mil e o Rio mais de 25 mil. Os dados são do Instituto para Métricas de Saúde e Avaliação (IHME) ligado à Universidade. A projeção da OPAS para o mesmo período (até início de agosto) é de 88,3 mil mortes no Brasil.

- A *empresa Latam, maior companhia aérea da América Latina, pede falência* após “colapso na demanda”. A empresa foi pedir recuperação judicial nos EUA. No comunicado estão listadas suas afiliadas no Chile, Colômbia, Equador, EUA e Peru. Não foram citadas as subsidiárias da Argentina, Brasil e Paraguai, pois serão casos tratados especificamente com os governos desses países. Já estão em curso negociações com o BNDES brasileiro com valores em torno de 2 bilhões de reais. O anúncio da Latam vem pouco depois do anúncio da Avianca, segunda maior cia aérea da América Latina, que também solicitou recuperação judicial nos EUA.

- Pelo menos duas postagens de Trump no Twitter foram marcadas como duvidosas pela plataforma. A sugestão é para que os seguidores “chequem os fatos”. As postagens tratavam de supostas fraudes eleitorais. Em reação, *Trump disse que “as plataformas de mídia social silenciam totalmente as vozes conservadoras” e ameaçou: “vamos regular fortemente, ou fechá-las”*.

- Na Argentina, o ex-presidente Maurício *Macri, pode ser investigado por espionagem ilegal* durante seu governo. Foi apresentada uma denúncia por uma auditora, Cristina Caamano, com uma lista de centenas de políticos e jornalistas que teriam sido espionados durante o governo. E-mails de mais de 100 pessoas teriam sido invadidos.

- No *Chile volta a crescer a tensão social* em meio à pandemia do novo coronavírus. Ontem (26) foi dia de protestos nos bairros periféricos de Santiago, como San Bernardo, La Granja e Cerro Navia. Um dos principais pedidos é que o governo entregue logo as mais de 2 milhões de cestas básicas prometidas por Piñera. A resposta dos carabineros tem sido o ataque aos manifestantes com jatos de água e gás lacrimogênio. Enquanto isso, o sistema hospitalar chileno está muito perto do colapso com mais de 80% de UTIs ocupadas, como o próprio Piñera admitiu no sábado (23).

- O *Equador é outro país que está convulsionado* com marchas e protestos apesar das medidas de isolamento social. As manifestações se dão contra as medidas econômicas anunciadas por Lenin Moreno de taxação dos salários de toda a população e contra a Lei Orgânica de Apoio Humanitário aprovada em 15 de maio de regulação das relações laborais e que afeta vários direitos dos trabalhadores e pequenas empresas. Um dos grupos mais mobilizados é dos estudantes que denuncia a retirada de 98 milhões de dólares do orçamento da educação e a continuidade do pagamento da dívida com o FMI.

- O governo de Maduro da *Venezuela apresentará uma petição ao Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre a retenção de ouro venezuelano depositado no Banco da Inglaterra* desde 2008. Segundo a vice-presidente do país, Delcy Rodríguez, “exerceremos todas as ações que correspondam para a defesa das reservas internacionais da Venezuela, para que se respeite a lei de imunidade soberana sobre as reservas, para que se respeite a soberania jurídica da Venezuela”. Há indícios de que um comitê de “reconstrução da Venezuela” instalado na Inglaterra por partidários de Guaidó esteja sendo remunerado com dividendos do ouro venezuelano depositado no banco inglês. Há ainda denúncias de que um navio inglês presente no mar do Caribe nos meses de março e abril deste ano estava em colaboração com a ofensiva norte-americana sobre a Venezuela do período. Mais concretamente com o aceite de denúncia de envolvimento de líderes do país com o narcotráfico pela PGR dos EUA, justificando uma busca marítima por narcotraficantes e a operação frustrada de invasão do país por mercenários na região de La Guaíra desbaratada no começo de maio.

- Aconteceu ontem (26) uma *conferência organizada pela União Europeia e o Governo da Espanha para arrecadação de fundos (2,5 milhões de euros foram arrecadados) para ajuda de venezuelanos que se encontram no exterior*.

- Na Bolívia, *dirigentes do MAS instaram as autoridades eleitorais a fixarem uma data para a eleição presidencial*. Apontam que até o dia 31 de maio a data do pleito deve ser definida e que há forte mobilização nas bases do partido para o início de mobilizações no país exigindo uma data para as eleições que coloque fim ao governo de transição instalado após o golpe sobre Evo de 10 de novembro de 2019.

- O *chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, se reuniu com o presidente da Câmara de Representantes da Líbia*, Aquila Saleh. A conclusão do encontro é a urgência do início dos diálogos de pacificação do país entre todas as forças políticas do país. A Líbia está devastada por uma guerra interna que já dura anos, desde a queda de Gaddaffi.

- Em Israel, o premiê *Benjamin Netanyahu está causando tensão interna com a polícia, procuradores, tribunais e partidos de oposição*. Diante do início de seu julgamento por denúncias de corrupção, Netanyahu diz que há uma “tentativa de golpe”. Para além da tensão interna, o premiê corre para não perder, em suas palavras, a *“oportunidade histórica” de ampliar a anexação da Cisjordânia*. Em reunião ministerial no começo da semana ele disse: “temos uma oportunidade histórica, que não exiete desde 1948, de aplicar a soberania judicialmente como uma medida diplomática na Judeia e Samaria (nomes bíblicos da Cisjordânia). É uma grande oportunidade e não vamos deixá-la passar”.

- Já estão em *águas venezuelanas pelo menos três dos cinco navios petroleiros do Irã* que se dirigiam ao país. Já chegaram as embarcações “Fortune”, “Forest” e “Petunia”. Ainda faltam chegar “Faxon” e “Clavel”.

- Uma *brasileira, Carla Monteiro de Castro Araújo, venceu o Prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero na ONU*. Ela está servindo na Missão de Paz na República Centro-Africana. Criado em 2016, o prêmio reconhece a dedicação e esforço das boinas-azuis na promoção dos princípios da Resolução 1325 do Conselho de Segurança sobre Mulheres, Paz e Segurança. Ela vai dividir o prêmio com Suman Gawani, boina-azul da Índia na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul.

- Com 7 milhões de habitantes, 865 casos de infectados e 11 mortes por coronavírus, o *Paraguai é um dos casos de sucesso no controle da covid-19 na América Latina*. O êxito se compara ao conquistado pela Nova Zelândia. A explicação pode estar na baixa conexão do país com grandes metrópoles. A resposta rápida à pandemia, com medidas de quarentena e confinamento dos doentes, também ajuda a explicar. Esta semana o país começa uma nova fase da quarentena com volta parcial das atividades, sendo que só serão admitidos de volta ao trabalho 50% dos trabalhadores e o mesmo vale para a ocupação do transporte público.












*Notas internacionais (por Ana Prestes) – 26/05/20*

- Semana passada (22), tive a oportunidade de conversar no bate papo que tenho feito às sextas no face e youtube do Portal Vermelho com o ex-senador boliviano, Adolfo Mendoza. Esta semana conversaremos com a deputada chilena Karol Cariola. Adolfo nos trouxe informações muito importantes sobre o que está acontecendo na Bolívia e que nossa imprensa não tem publicado. Exatamente um dia antes da nossa conversa, na quinta *21 de maio, um grupo do alto comando militar da Bolívia, dirigido pelo comandante em chefe das Forças Armadas, general Sergio Carlos Orellana, entrou no parlamento nacional* (Assembleia Legislativa Plurinacional) em trajes camuflados de campanha e deu um ultimatum aos senadores para que aprovassem e “sem mudanças” a “orden de ascensos”, ou seja, as promoções de carreira para os oficiais militares do Exército, da Força Aérea, generais de Divisão e Vice-Almirantes. Na saída do edifício da Assembleia, Orellana disse: “já passou tempo demais em relação à resposta que deveria ter sido dada às Forças Armadas. Como instituição, vamos esperar até a próxima semana para que a Assembleia se pronuncie e ratifique as promoções”. Na sequencia, Orellana ainda ameaçou que caso o Senado não aprove a nominata de promoções, as Forças Armadas o farão por “meios próprios”. A presidente do Senado boliviano, Eva Copa, reagiu dizendo que “caso seja consumado o ato das promoções através de alguma manobra jurídica se colocará em evidência que o Governo é “de Fato”, hostil ao sistema democrático da Bolívia e com ações próprias de uma ditadura”. Nesse mesmo dia, o ex-presidente Evo Morales se manifestou pelo twitter: “é inédito e altamente preocupante que um Comandante em Chefe das Forças Armadas se apresente em uniforme de campanha para impor prazos à Assembleia Legislativa, inclusive passando por cima da autoridade de Órgão Executivo; e que logo se declare à imprensa mobilizada na Praça Murillo”. Segundo a constituição boliviana (artigo 160), é atribuição do Senado ratificar a proposta de promoções a generais das Forças Armadas apresentada pelo Executivo. O governo da presidente de fato Jeanine Añez, que chegou ao governo amparada pelas Forças Armadas, já enviou uma proposta com amplas promoções ao generalato no âmbito das FFAA e principalmente desconsiderando que muitos estiveram envolvidos nos massacres de civis que resistiram ao golpe de 2019. O Senado, hoje de maioria parlamentar do MAS, partido do ex-presidente Evo Morales, ainda não deliberou sobre a nominata também como forma de resistência ao avanço do golpe. Os dias seguintes ao ultimatum têm sido de muita tensão, especialmente depois que as e os senadores disseram que não vão fazer caso do prazo determinado pelas FFAA. O ministro do interior, braço direito de Añez, Arturo Murillo, chegou a fazer ameaças de prisão das/dos senadores, ao dizer: “cuidado que amanhã estarão na prisão e vão dizer que é perseguição política”. (Com dados da Prensa Latina e do Página 12)

- Os *EUA anteciparam a restrição para viajantes que tentem chegar ao país via Brasil*. A princípio começaria a valer a partir da sexta, 29 de maio, mas foi antecipado para amanhã (27). A proibição não tem data para acabar e não afeta cidadãos norte-americanos e residentes permanentes legais nos EUA. O governo brasileiro tentou minimizar a medida anunciando que os EUA vão enviar 1000 respiradores para o Brasil, mas o governo dos EUA ainda não deu detalhes sobre quando e como chegarão esses aparelhos.

- Nossos vizinhos aqui do sul também estão aprimorando as medidas de isolamento do Brasil. *Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai são os países que mais estão blindando as fronteiras binacionais com o Brasil*, para proteger sua população do contágio pelo novo coronavírus. Na cidade de Rivera, no Uruguai, houve contágios provocados pela proximidade com Santana do Livramento, cidade gaúcha. Por enquanto, o Uruguai registra apenas 22 mortes por Covid-19 e com uma taxa de letalidade de 2,8%, já o Brasil está com mais de 23 mil mortes e uma taxa de letalidade de 6,24% (com dados do G1). Será implementado um Tratado de Ação Binacional Sanitária para o controle da infecção na região.
- Uma notícia que escapou aqui das notas na semana passada foi a do *rompimento por parte dos EUA do Tratado dos Céus Abertos, assinado em 1992* como parte do contexto do fim da guerra fria, e que trata desregulação de voos de aviões militares responsáveis por monitorar arsenais balísticos como mísseis e ogivas nucleares. Permissão para aviões sobrevoarem instalações, como uma forma de checagem recíproca entre as duas potências. A formalização do rompimento se deu na última sexta (22) e vem meses depois do rompimento de outro acordo com a Rússia, que reportamos aqui nas Notas, referente a Forças Nucleares de Alcance Intermediário, o INF. O governo Trump justifica a saídas dos acordos com o que qualifica de “não cumprimento por parte dos russos”. Diante do rompimento, autoridades russas disseram que o tratado não é bilateral, mas multilateral e que essa decisão afetará os interesses de todos os participantes, se referindo nos interesses de segurança dos países europeus.

- Os EUA continuam violando os direitos humanos de crianças das famílias de migrantes. Segundo uma reportagem da Reuters, desde março pelo menos *mil crianças migrantes desacompanhadas foram enviadas ao México, El Salvador, Guatemala e Honduras*. Segundo a Unicef, “isso significa que muitas crianças devolvidas estão agora em risco dobrado se comparado ao período quando deixaram suas comunidades”. Por outro lado, há relatos da Guatemala e Honduras de impendimento de entrada de migrantes que retornam, inclusive crianças e tudo isso no contexto da pandemia do novo coronavírus. Comunidades inteiras rechaçam deportados dos EUA com medo de contágio.

- O internacionalismo médico cubano fez aniversário. Data de *23 de maio de 1963 a primeira missão médica cubana para o exterior*, quando um voo da Cubana de aviação pousou na Argélia na África, logo após a independência argelina de 1962. Com a independência, a população de 11 milhões de habitantes ficou sem médicos, quase todos franceses. Poucos meses depois, os médicos cubanos se encontrariam com Che em terras argelinas. Estas informações estão no texto de Maribel Acosta Damas no site Juventud Rebelde. Hoje, em plena pandemia do novo coronavirus, Cuba apresenta dados favoráveis no enfrentamento da doença causada pelo vírus. Até o dia 24 haviam 445 pacientes hospitalizados, sendo 159 confirmados como positivos para o vírus, desses, 154 em condição clínica estável. Até agora, Cuba registrou 82 falecidos pela Covid-19.

- Chegam poucas notícias da pandemia na *África. O continente já passou dos 110 mil casos registrados e mais de 3 mil mortes*. A infecção já chegou em todos os países do continente. Os mais atingidos são a África do Sul, o Egito e a Argélia. Os países com menos registros são a Namíbia, Seychelles e o Lesoto. Egito e Argélia lideram com mais mortos. Segundo o chefe de emergências da OMS, Mike Ryan, reportou que há subnotificação considerável e quatro países tiveram aumento de 100% dos casos na semana passada. O grande temor das agências humanitárias é quanto à população que se encontra nos campos de refugiados.

- A *Suécia, um dos países que recusou as recomendações da OMS* quanto à pandemia e já foi usado como exemplo a ser seguido pelo presidente Bolsonaro, continua com uma alta taxa de mortalidade pelo coronavirus. A mais elevada dos países nórdicos e a sexta do mundo. Por lá, a maior parte do comércio ficou em atividade, assim como restaurantes, cabeleireiros, bares e academias, até que foram obrigados a fechar por conta do aumento exponencial do número de casos. O pib vai cair igualmente, na média entre 6% e 7% como está ocorrendo com outros países. De nada adiantou resistir ao fechamento.

- Na Europa, governos da *Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal publicaram declaração conjunta acusando Google e Apple* de oferecerem aplicativos de rastreamento de casos de coronavírus sem autorização governamental. Os governos firmantes dizem que UE precisa de uma “soberania digital, base para que a Europa seja competitiva”.

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